segunda-feira, 23 de julho de 2012



Carta aberta à comunidade do IF Baiano

Inicio minha fala situando-me e identificando-me enquanto profissional. Sou Rosemeire Oliveira Nascimento, professora de Língua Portuguesa e Espanhola deste Instituto, atualmente, lotada no campus Itapetinga; militante em defesa da implantação do Espanhol em nosso estado desde 2005; fui assessora de pesquisa da Associação de Professores de Espanhol do Estado da Bahia – APEEBA no biênio 2009-2010; hoje, sou sócia efetiva dessa Associação.

Esta carta surge de uma inquietação decorrente dos rumos que estão sendo dados à mudança curricular dos cursos integrados do nosso Instituto, no que tange o ensino de Línguas Estrangeiras. Até onde tenho ciência, a proposta atual é a de que haja a oferta de dois idiomas (Inglês e Espanhol) para que o alunado eleja qual a disciplina quer cursar. Sou contrária ao fomento dessa proposta por julgá-la ineficiente. Primeiro ponto a ser analisado é o fato de que se o aluno tem o direito de escolher qual disciplina cursar, a tendência inevitável será a escolha pela língua de Cervantes, justificada no mito da facilidade do Espanhol ou o desinteresse pela Língua Inglesa, decorrente do já sabido processo de ensino-aprendizagem desta língua em nosso país.

Outro ponto, talvez ainda mais importante, é a questão jurídica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 em seu Art. 3º, paragráfo III diz que, para o Nível Médio, é necessária a inclusão de “uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição”. Já a Lei 11.161 de 05 de agosto de 2005 define, em seu Art. 1º, que “o ensino da Língua Espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa para o aluno, será implantado, gradativamente, nos currículos plenos do Ensino Médio”, em um prazo de 5 anos, a contar da sua publicação. Por fim, a Resolução do Conselho Estadual de Educação, Nº 173, de 27 de setembro de 2011, aponta em seu Art. 1º que a “instituição de ensino deverá oferecer no mínimo duas línguas estrangeiras modernas no Ensino Médio, sendo uma delas a Língua Espanhola”.

O que se faz, portanto, como reflexão das supracitadas normas, é uma verdadeira panaceia, visto que não há um entendimento específico de como tratar a questão do ensino de línguas estrangeiras no nosso Estado. O viés que julgo mais acertado é o de que a LDB de 1996 referencia o ensino de apenas uma Língua
Estrangeira moderna qualquer; já a Lei 11.161 inclui ao Ensino Médio, em específico, a Língua Espanhola; neste sentido, a Resolução do CEE agrega as duas normas quando diz que há a obrigatoriedade do oferecimento de duas línguas estrangeiras, entretanto, não explicita que cabe ao aluno a eleição de qual idioma quer cursar. Cabe, portanto, a conclusão de que a língua estrangeira que historicamente, se consolidou no ensino do nosso país, o Inglês, e que faz parte do currículo do Ensino Médio por quase todo território nacional, é de matrícula obrigatória para o aluno, e deve assim permanecer; entretanto, o Espanhol entra como o único idioma que nacionalmente todas as instituições de nível médio devem oferecer, porém, é facultado ao aluno a matrícula nessa disciplina.

Há, além de tudo que já foi exposto, o direcionamento de que para a língua estrangeira seja, somente, dispensada 1 hora/aula, isso quer dizer, na minha situação, 50 minutos de desenvolvimento de atividades. Minha primeira ponderação, neste sentido, é que não haverá aproveitamento satisfatório no ensino-aprendizagem; segunda, teremos que dá conta de uma ementa extensa, se fomentada de maneira completa, em 40 horas de curso, o que representa a metade da carga-horária atual; e por fim, a terceira, não pretendo percorrer o mesmo caminho das outras línguas estrangeiras que já foram ou vêm sendo ensinadas no nosso país, pelo contrário, creio no ensino do espanhol como uma disciplina inovadora, diferenciada, que desperta o interesse do alunado sem grandes esforços do docente, como é o caso do campus Itapetinga que, atualmente, tem somente um aluno, dentre todo o ensino médio, sem cursar o componente curricular.

Neste sentido, não podemos aprovar o novo currículo do Ensino Médio desta Instituição da maneira que está posto, pois infringiremos as leis de nosso país. Devemos, no entanto, pensar em um currículo verdadeiramente integrado, sem massacrar as disciplinas do ensino médio, principalmente, aquelas que ao longo de todo o processo foi considerada sem valor pela sociedade, como é o caso das Línguas Estrangeiras.


sábado, 7 de julho de 2012

Por que os brasileiros devem aprender espanhol?


                                                            João Sedycias (UFPE)

A crescente globalização da economia mundial e as privatizações que têm ocorrido na América Latina nos últimos anos são um alerta para que profissionais brasileiros e hispano-americanos de todas as áreas procurem adquirir o mais rápido possível a capacidade de comunicação em diferentes idiomas. No caso específico do Brasil, com o advento do Mercosul, aprender espanhol deixou de ser um luxo intelectual para se tornar praticamente uma emergência. Além do Mercosul, que já é uma realidade, temos ao longo de toda nossa fronteira um enorme mercado, tanto do ponto de vista comercial como cultural. Porém, esse mercado não fala o nosso idioma. Com a exceção de três pequenos enclaves não-hispânicos no extremo norte do continente (a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa), todos os outros países desse mercado falam espanhol. Mais além da América do Sul, temos a América Central e o México, onde também predomina o idioma espanhol. Se quisermos, portanto, interagir devidamente com esse gigantesco mercado, teremos que aprender a língua e cultura dos nossos vizinhos hispano-americanos.
Todos os indicadores atuais nos levam a crer que o inglês continuará ocupando o lugar privilegiado que conquistou já há algum tempo como principal idioma internacional de comunicação. Salvo alguma mudança radical na atual ordem mundial, essa lingua francaseguirá sendo a ferramenta de comunicação internacional preferida nas áreas de comércio, economia e negócios. Na Alemanha, por exemplo, os dirigentes de grandes empresas tais como a Siemens, Hoechst e Deustche Telekom, as quais têm uma atuação internacional bastante acentuada, fizeram recentemente algo revolucionário. Determinaram que seria melhor para suas respectivas companhias se todos – tanto os executivos como os funcionários subalternos – usassem o inglês para se comunicarem entre si. Por isso, decidiram que no futuro vão adotar essa língua não somente para todas as comunicações internas e externas da companhia mas também nas reuniões dos seus executivos, mesmo quando haja apenas alemães presentes! Essa atitude inusitada por parte dos líderes empresariais alemães reflete um extraordinário grau de sentido prático, esclarecimento e compreensão das forças que estão moldando o nosso futuro, pois dá as devidas condições aos funcionários dessas empresas de competirem com o resto do mundo de igual para igual.
A situação atual do espanhol não é muito diferente da do inglês. A posição que a língua espanhola ocupa no mundo hoje é de tal importância que quem decidir ignorá-la não poderá fazê-lo sem correr o risco de perder muitas oportunidades de cunho comercial, econômico, cultural, acadêmico ou pessoal. O espanhol é de suma relevância para a comunidade mundial da atualidade, não somente pelo fato de ser a língua mãe de mais de 332 milhões de pessoas, na sua maioria concentradas em dois dos mais importantes continentes da nossa era (Europa e América), mas também por desempenhar um papel crucial em vários aspectos do mercado mundial contemporâneo. Depois do inglês, o espanhol é a segunda língua mais usada no comércio internacional, especialmente no eixo que liga a América do Norte, Central e do Sul.
Até alguns anos, não era preciso mais do que um conhecimento rudimentar de uma lingua franca, tal como o inglês, para se comprar e vender entre países de línguas e culturas diferentes. Contrariando esse modelo, a atual globalização da economia mundial tem requerido que os participantes do comércio internacional estejam melhor preparados para poder competir com mais eficácia e rapidez, podendo assim oferecer produtos mais diversos e preços mais competitivos aos consumidores. A comunicação entre mercados diferentes já não depende apenas de uma lingua franca, mas exige que o vendedor de bens ou o prestador de serviços tenha conhecimento da língua e da cultura do seu comprador ou cliente em potencial.
No caso da América Latina, um dos mercados mais promissores do novo século, o português e o espanhol representam os dois meios de comunicação mais importantes para esse comércio global. Quem quiser comprar, certamente poderá fazê-lo usando sua língua nativa (o vendedor se encarregará de aprender a língua de quem tiver dinheiro para adquirir seus produtos). Por outro lado, quem quiser vender, terá que fazê-lo com um bom conhecimento da língua e da cultura do comprador. É com essa filosofia em mente que todas as escolas de MIB (Master’s in International Business, Mestrado em Negócios Internacionais) dos Estados Unidos exigem que seus alunos tenham um conhecimento básico de pelo menos uma língua estrangeira, que geralmente é o espanhol.
Dez razões por que os brasileiros devem aprender espanhol:
Antes de enumerar as muitas razões por que os brasileiros devem aprender espanhol, gostaria de tecer algumas considerações sobre duas premissas básicas que são raramente mencionadas (talvez por serem óbvias e por geralmente enfocarmos a presente questão do ponto de vista das particularidades do idioma em questão) quando discutimos a importância, para o indivíduo, em aprender alguma língua estrangeira específica. As premissas descritas abaixo remetem ao ponto de vista do aluno (e por esta razão são chamadas neste artigo de “premissas internas”), cuja vida pessoal e profissional geralmente é afetada de forma positiva e permanente com o aprendizado de uma língua estrangeira:
A.     Enriquecimento profissional. A maioria das pessoas adultas que começam a aprender uma língua estrangeira geralmente tem como objetivo principal ampliar os seus horizontes profissionais. Esses indivíduos chegam à escola de línguas perfeitamente cientes de que a aprendizagem de um segundo idioma vai enriquecer o processo de aperfeiçoamento profissional deles e pode até chegar a contribuir para a qualificação ou capacitação dos mesmos nas suas respectivas carreiras. O conhecimento de uma língua estrangeira pode fazer uma diferença decisiva na hora da contratação ou, mais tarde, no momento de disputar uma promoção dentro de uma empresa. Portanto, a conexão entre o domínio de um idioma estrangeiro e o avanço na carreira profissional se torna cada vez mais tangível e óbvia com a crescente globalização da economia mundial.
B.     Enriquecimento pessoal. A maioria dos alunos de língua estrangeira termina tendo sua vida intelectual, acadêmica e pessoal enriquecida de uma forma ou de outra com o aprendizado de um segundo idioma. Isso acontece mesmo com estudantes bastantes jovens, que podem até nem gostar de assistir às aulas, preferindo passar seu tempo livre em outras atividades. Só no futuro esses jovens compreenderão realmente o valor de poder ver o mundo por um prisma lingüístico diferente daquele de sua língua nativa. Além de um universo completamente novo em termos de literatura, filosofia, historiografia, folclore, música, filme, cultura popular, etc. que vai se abrir com cada idioma novo que aprendermos, não devemos esquecer uma das verdade mais simples sobre as línguas estrangeiras: quando estudamos um segundo idioma, não aprendemos apenas a descrever a nossa realidade convencional com sons novos e exóticos; aprendemos também a criar uma realidade completamente nova. Por isso, a título de exemplo, podemos dizer que o mesmo copo que cai acidentalmente das nossas mãos adquire, quase de forma mágica, duas dimensões ontológicas, duas realidades distintas, em espanhol e inglês. A afirmação em inglês “I dropped the glass” (eu deixei o copo cair) oferece uma visão do mundo, uma construção da realidade, muito diferente da versão em espanhol “se me cayó el vaso” (o copo caiu, acidentalmente ou devido a ação de uma terceira entidade não identificada, da minha mão e issome afetou, i.e., eu sofri as conseqüências dessa ação).
Tentei mostrar acima que o aprendizado de uma língua estrangeira pode ter conseqüências muito positivas no desenvolvimento profissional e na vida pessoal de um indivíduo (premissas internas). A seguir, com referência específica ao espanhol, gostaria de oferecer dez razões por que os brasileiros devem aprender esta língua (premissas externas, i.e., razões que remetem, não ao ponto de vista do aluno, mas às particularidades da língua estrangeira em questão):
As dez razões:
1.       Língua mundial. O espanhol é umas das mais importantes línguas mundiais da atualidade. É a segunda língua nativa mais falada do mundo. Mais de 332 milhões de pessoas falam espanhol como primeira língua. Perde em número de falantes nativos apenas para o chinês (mandarim), cuja projeção internacional, entretanto, não pode ser comparada com uma língua “mundial” como o inglês, espanhol ou francês. Uma curiosidade: há mais falantes de espanhol como língua nativa do que de inglês, que conta apenas com 322 milhões de falantes nativos.
2.       Língua oficial de muitos países. O espanhol é a língua oficial de 21 países.
3.       Importância internacional. O espanhol é, depois do inglês, a segunda língua mundial como veículo de comunicação internacional, especialmente no comércio, e a terceira língua internacional de política, diplomacia, economia e cultura, depois do inglês e do francês.
4.       Muito popular como segunda língua. Aproximadamente 100 milhões de pessoas falam espanhol como segunda língua. Nos Estados Unidos e Canadá, o espanhol é a língua estrangeira mais popular e portanto a mais ensinada nas universidades e nas escolas primárias e secundárias.
5.       O Mercosul. Pela primeira vez na sua história, a América Latina está não somente vivenciando um dos mais altos graus de crescimento econômico, tecnológico e industrial como celebra também o primeiro acordo comercial de âmbito continental. O Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai acabam de assinar um acordo histórico, que efetivamente transforma esses quatro países em uma única zona comercial e econômica. O espanhol é a língua oficial de três desses países e desempenhará um papel de suma importância para qualquer indivíduo ou companhia que queira ter acesso ao maior mercado da América do Sul. Se quisermos comprar algo dos nossos vizinhos sul-americanos, poderemos certamente usar o português. Porém, se quisermos que eles comprem os nossos produtos, teremos que falar a língua deles (o espanhol).
6.       Língua dos nossos vizinhos. Todos os países que fazem fronteira com o Brasil têm o espanhol como língua oficial, com a exceção apenas da Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Isso é importante não somente do ponto de vista econômico e comercial (e.g., Mercosul) como também cultural e até pessoal, já que compartilhamos culturas muito similares. Afinal de contas, somos todos latinos, íbero-americanos e produtos de culturas cujo Weltanschauung difere em muito pouco. Mesmo se não tivéssemos tanto em comum lingüística e culturalmente com os nossos irmãos hispano-americanos, o simples fato de países tais como o Chile e a Colômbia terem na sua literatura alguns dos melhores escritores que o mundo já produziu, muitos deles ganhadores do Prêmio Nobel de literatura – tais como Gabriela Mistral, Pablo Neruda e Gabriel García Márquez, entre outros – já seria motivo suficiente para termos interesse em aprender a língua em que suas obras foram escritas. O fato de sermos vizinhos é mais um motivo para aprendermos sua língua e nos familiarizarmos com sua cultura.
7.       Viagens para Espanha ou Hispano-América. Um conhecimento razoável de espanhol fará uma grande diferença em qualquer viagem que um brasileiro faça a um país de língua espanhola. Poderemos aproveitar mais do país que visitarmos e teremos mais oportunidades de estabelecer amizades ou mesmo relações mais formais (intercâmbios econômicos, acadêmicos, científicos, etc.) se pudermos nos comunicar na língua dos nossos anfitriões. Jamais devemos pensar que, simplesmente porque sabemos português, podemos compreender espanhol sem maiores problemas. Se isso fosse verdade, as seguintes frases seriam perfeitamente compreensíveis para a grande maioria dos brasileiros:
·         ¿Tiene Ud. tijeras para zurdo?
·         ¡Mira, qué bonitos son los cachorros del oso!
·         A mí no me gusta el berro. Prefiero la lechuga o el perejil.
·         La maja azafata me enseñó la butaca morada en el escaparate.
·         Este zagal es el chirote recazo quien arrestó el presunto asesino.
·         El profesor no tiene ropa y necesita un saco nuevo para ir a la fiesta.
·         La chaparrita que lleva la zamarra garza vive en una chabola cerca del malecón.
·         Me acordé que tengo que cortar la tela para hacer americanas para los mellizos.
·         ¡Qué absurdo! Llamaron al pobre chamaco de “archiganzúa,” “faltrero” y “rapante.”
8.       Importância nos EUA. Nos Estados Unidos, o maior mercado do mundo, aproximadamente 13% da população fala espanhol como primeira língua. Esse grande número de falantes de espanhol representa um gigantesco mercado de consumidores, com um poder aquisitivo de mais de 220 bilhões de dólares, algo que as grandes companhias de marketing dos Estados Unidos já se deram conta há algum tempo. Isso explica o fato de vermos regularmente na mídia norte-americana comerciais direcionados especificamente para esse segmento da população. Se nós brasileiros quisermos participar desse enorme mercado, colocando nele produtos oriundos do Brasil, teremos não somente que ter algum conhecimento de inglês mas também um bom comando de espanhol.
9.       O português e o espanhol são línguas irmãs. Pelo fato de se derivarem da mesma língua, o latim vulgar, o português e o espanhol têm muito em comum, muito mais do que, por exemplo, o português e o inglês. Essa familiaridade ajuda muito na aprendizagem do espanhol por parte dos falantes do português brasileiro. Em realidade, é mais fácil para um brasileiro aprender espanhol do que um falante de espanhol aprender português. Isso é, em parte, devido ao fato de o português, por um lado, ter mais sons vocálicos (12) do que o espanhol (apenas 5) e, por outro, na sua evolução lingüística ter eliminado certos sons consonantais que ainda figuram no espanhol. Exemplos desses sons são o “n” e o “l” intervocálicos em palavras como “cor” e “ter” (“color” e “tener” respectivamente em espanhol).
Com respeito às vogais, existe no inventário fonológico do português sons que não figuram no espanhol e que, por conseguinte, torna a sua compreensão mais difícil para uma pessoa de língua espanhola. Além dos sons vocálicos nasais, que não existem no espanhol, o português tem variações dos fonemas /o/ e /e/ que apresentam problemas especiais para o hispano-falante. Via de regra, este último não compreenderia, por exemplo, a diferença sutil entre as palavras “avô” e “avó,” “seu” e “céu,” ou “meu” e “mel.”
Com respeito aos sons consonontais eliminados na evolução do português, mesmo um brasileiro com pouco conhecimento de espanhol poderá, sem muita dificuldade, deduzir que o termo castelhano “color” (relacionado ao vocábulo português “colorir”) é apenas uma forma mais “longa,” talvez mais arcaica, da palavra portuguesa “cor.” Essa palavra em ambos idiomas se deriva do termo “colore” em latim. Eliminando o “l” da palavra espanhola “color,” que do ponto de vista do falante de português, neste ambiente fonético específico, não representa mais do que um som supérfluo, se chega ao termo correto no idioma lusitano. Usando a mesma analogia, o falante de português poderá chegar também ao significado correto da palavra espanhola “tener,” simplesmente eliminando o “n,” que há muito tempo deixou de figurar no vocábulo correspondente em português. Assim como o termo anterior, os verbos “tener” em espanhol e “ter” em português provêm da mesma palavra ancestral, o verbo “tenere” em latim. Fica claro, portanto, que o processo de eliminação de sons em certas palavras de uma dada língua para se chegar aos vocábulos equivalentes em outro idioma da mesma família é algo relativamente fácil. Porém, o contrário – i.e., para um hispano-falante “deduzir” que as palavras em português “ter” e “cor” significam, respectivamente, “tener” e “color” em espanhol – se torna mais difícil. Afinal, é pouco provável que o falante de espanhol saiba que fonema, ou combinação de fonemas, adicionar aos termos portugueses em questão para chegar às palavras corretas na sua língua mãe.
Essa “hierarquia de habilidades de compreensão” ilustra um aspecto básico da fonética de muitas famílias lingüísticas. Sabemos que dentro de um mesmo grupo filológico, uma língua que tenha se desenvolvido mais e sofrido um maior número de transformações e, principalmente, reduções é sempre mais difícil de compreender do que uma que tenha permanecido fonologicamente mais próxima da origem. Daí a razão – do ponto de vista do aprendiz falante de português – de o espanhol e o italiano serem mais fáceis do que o francês. Daí, também, a razão de ser mais fácil para um brasileiro aprender espanhol do que um hispano-falante aprender português.
1.              Beleza e romance. Embora (ainda) não haja provas concretas, todos sabemos que o espanhol faz bem à alma e ao coração, principalmente daqueles que estão apaixonados. O espanhol é uma das línguas mais bonitas, melodiosas e românticas que o mundo já teve a felicidade de ouvir. Além de suas óbvias qualidades intrínsecas, temos à nossa disposição em espanhol uma vasta e maravilhosa literatura – as obras do Siglo de Oro, por exemplo – sobre os assuntos mais variados, profundos e refinados do sentimento humano. Do lado de cá do Atlântico, temos os inesquecíveis boleros cubanos e mexicanos que nos fazem sonhar com um tempo mais romântico e bonito... Que outra língua, senão o espanhol, poderia dizer “eu te amo” desta forma?: “Mujer, si puedes tú con Dios hablar, pregúntale si yo alguna vez te he dejado de adorar.”
Notas
1 Esta parte do presente artigo (“Turismo: Viagens de turistas hispanófonos ao Brasil”) contou com a participação de Maressa Farias Rocha, aluna de graduação nas áreas de espanhol e japonês no Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília.
http://home.yawl.com.br/hp/sedycias/porqueesp.htm (reproduzido com permissão do autor) .